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quinta-feira

Testemunho : Homossexualidade



Foi de repente que me dei conta de que a Páscoa era um feriado religioso. Aos 17 anos experimentei o novo nascimento Cristão. Que gloriosa razão para me alegar com a liberdade, a graça, e a salvação através da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo.

Infelizmente, a verdadeira celebração da Páscoa nunca pareceu penetrar em meu coração. Graça e salvação, em minha mente, dependiam totalmente de minha capacidade em obedecer os padrões inatingíveis estabelecidos por Deus. A liberdade descoberta tornou-se um fino véu de negação, enquanto eu escondia minhas feridas do passado e as minhas lutas presentes, com orações persistentes para que ninguém jamais viesse a descobrir a confusão escura e vergonhosa na qual eu me encontrava.



Mas o lado “de fora” parecia bem. Esta atitude de manter as aparências tinha sido uma importante regra para se viver, e minha família se saía muito bem em passar a imagem de perfeição suburbana: pai e mãe, duas crianças, um peixinho no aquário, e um gramado bem cuidado. Eu entendo agora, anos mais tarde, que meus pais fizeram o melhor que podiam fazer com o que tinham, mas faltavam coisas profundas em nosso lar, coisas muito importantes. Nosso problema maior não era o fazíamos uns aos outros, mas sim o que não fazíamos. Em outras palavras; nós nunca conversávamos de verdade, e nunca nos conhecemos uns aos outros.

Comecei a ter conflitos e confusão com relação ao meu gênero a partir dos cinco anos de idade. Eu me sentia atraído por coisas que eram tradicionalmente tidas como culturalmente femininas, e estava começando a ser excluído de meu círculo de amigos com acusações de ser “fresco” e “bicha”. Meu irmão mais novo era excelente em todos os esportes; meus pais estavam sempre muito ocupados e sempre assistiam as partidas esportivas de meu irmão, enquanto eu lutava para encontrar meu lugar na orquestra da escola ou no grupo de escoteiros. No entanto, apesar de meus esforços, continuei a me sentir “diferente” e “fora de meu lugar”, e lentamente comecei a me separar de todos, me afastando, e me tornando uma pessoa muito solitária.

Ao tornar-me um espectador da vida, ao invés de um participante dela, tive muitas oportunidades para observar o mundo a minha volta, e não gostei muito do que estava vendo. Comecei a considerar os homens e o mundo masculino com medo e certo desprezo. Os modelos de masculinidade que via na televisão e nos filmes influenciaram minhas crenças de que os homens eram serem sem emoções, insensíveis, facilmente manipuláveis, arrogantes, que pensavam com seus genitais, ao invés de suas mentes. Fiz um voto silencioso de que nunca seria igual a um deles; no entanto, apesar desta atitude, eu ainda desejava intensamente, de alguma forma, me “encaixar” neste mundo.

Então a puberdade chegou! É uma fase difícil e confusa para qualquer um, mas para mim veio como a emergência dos sentimentos homossexuais, e para tornar a dor ainda mais intensa, junto com aqueles sentimentos vieram o reconhecimento de que a homossexualidade não era algo legal no mundo no qual eu vivia. Meu conflito me levou a uma profunda confusão, silencio e isolamento. Eu não tinha ninguém para conversar sobre minhas atrações por homens. Com a idade de 14 anos, com compreensão limitada, comecei a fazer minhas escolhas. Comecei um relacionamento com um amigo de minha idade. Não sabia que esta decisão iria custar nossa amizade eventualmente. Qualquer que tenha sido a intimidade que tivemos inicialmente, esta desapareceu; no final tudo reduziu-se a sexo.

Entrei para o Segundo Grau já sentindo-me esgotado, cansado, mantendo todos distantes de mim. Foi então que um “salva-vidas” foi lançado em minha direção. Tornei-me Cristão e meu coração foi ocupado pela pessoa de Jesus Cristo. Acredito que realmente eu amei muito ao Senhor naquela fase, mas logo fui assaltado pelas piores mensagens acerca do homossexualismo, especialmente incluindo a “mensagem” de que pessoas com aquele problema passariam a eternidade no inferno. Com medo, vergonha e condenação, escondi meus sentimentos e, como de costume, usei o sorriso de sucesso de uma vida vitoriosa e abundante como uma máscara. Com o passar dos anos, esta máscara foi tornando-se muito pesada.

Quando recebi o diploma do Segundo Grau, novamente afastei-me de todos, incluindo Deus, e saí em busca de minha “nova vida”. Agora, pela primeira vez, pensei que minha vida poderia realmente começar, e persegui esta possibilidade apaixonadamente. Quando entrei em um bar gay, em meu aniversário de 21 anos, me senti como se beijasse o chão. Eu estava em casa! Vinte e um longos anos de silencio e isolamento acabaram. Todo meu corpo parecia aliviado; eu estava com pessoas que eram como eu. Eu podia falar sobre meus sentimentos e agir de acordo com eles. Eu tinha altas esperanças, porém o da realidade continuava me atormentando. Todos aqueles sonhos de uma vida “normal”, representada pela minha própria família, ou seja, a casa, o cachorro, o peixe, o jardim bem cuidado e a espera de alguém chegando para o jantar, em uma vida estável, se esvaíam de minhas esperanças. Toda aquela sensação de distanciamento emocional que eu experimentara toda a minha vida estava agora em seu auge, enquanto eu saía de um relacionamento abusivo para outro.

Eu passei a considerar os heterossexuais como sendo meus inimigos. As únicas pessoas com que me relacionava era um grupo de amigos gays, e aqueles que tinham negócios gays. Comecei a me sentir amargo e irado. Queria saber porque todo mundo a minha volta parecia tomar conta de suas vidas. Como poderia minha vida ter se tornado tão descontrolada? Sabia que precisava de ajuda e de aconselhamento, porém não sabia o que fazer.

Devido a uma série de acontecimentos, comecei uma amizade com um Cristão. Esta foi a primeira vez que pensei na possibilidade de contar meu segredo para alguém que era Cristão. Como ele reagiria? Seria eu rejeitado? Ponderei sobre estes riscos com muito medo. Em minha vida, as amizades eram raras, e eu queria perder a amizade deste homem. Quando o assunto da homossexualidade veio à tona, ele honestamente admitiu que não concordava com meu estilo de vida, mas que queria continuar sendo meu amigo. Sua reação me surpreendeu. Será que eu poderia ter um relacionamento com alguém que não aceitasse minha orientação sexual? Felizmente, o foco de nossas conversas não eram sobre minha homossexualidade, mas sobre a pessoa de Jesus Cristo.

Eu tive que tomar uma decisão. Ou eu me afastava deste amigo, e dos sentimentos desconfortáveis que nossa amizade trazia à tona, ou eu deveria me dispor a encarar Jesus novamente. Foi então que orei sinceramente: “Eu já fiz isto antes, Senhor, e acabei realmente mal. Eu não quero fazer isto novamente. Eu não entendo porque minha sexualidade tem tal problema. Tenho me sentido assim por muito tempo, mas se o Senhor quiser me mostrar o que está acontecendo comigo, eu acho que estou pronto para ouvir.” O Senhor honrou aquela oração. Um mês depois, entrei em contato com um ministério Cristão chamado “Where Grace Abounds” (Onde a Graça é Abundante), um ministério para homens e mulheres que estão em conflito com sua homossexualidade.

Isto aconteceu há 10 anos, e o que aconteceu desde então poderia encher páginas de um romance! Aquela confusão escura e vergonhosa foi exposta à luz. Hoje me encontro em um ambiente muito diferente – um ambiente onde a verdade e a graça de Deus são mantidas em equilíbrio. Eu cheguei ao “Where Grace Abounds” com um monte de “lixo” em minha vida: uma tonelada de relacionamentos rompidos, um sistema de crenças envenenado que inclui Deus, homens, mulheres, eu mesmo, e muito medo, e muitas outras coisas. O que realmente encontrei foi Sua Graça. Fui aceito como cheguei, e nenhuma pergunta ou exigência foi feita. E juntos, no tempo de Deus, continuamos a lidar com todos estes assuntos dolorosos, e apesar de todas estas áreas que ainda estão sendo curadas, tenho sido amado.

Gostaria de dizer que hoje não preciso mais daquela “máscara de felicidade” que eu usava, à medida em que vou entendendo e experimentando que a liberdade está em admitir a nossa verdadeira fraqueza e pobreza espiritual. Ao confessarmos nossa necessidade por Ele, somos tomados por Deus em Seus braços de amor, e somos levados à posição de herdeiros da vida eterna com Ele.

Scott Kingry é Presbítero da Igreja Presbiteriana de Corona, em Denver, no Colorado, e um dos líderes no ministério Where Grace Abounds.

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